No. 73/ Octubre 2014


 

clarice lispector

 

 

Versión al español de Daniela Aguilar


saudades

 

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades…

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei…

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser…

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro…

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser…

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências…

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que…
não sei onde…
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi…

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
em japonês, em russo,
em italiano, em inglês…
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados…
para contar dinheiro… fazer amor…
declarar sentimentos fortes…
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
“I miss you”
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e
significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades…
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência…

saudades

 

Siento saudades de todo lo que marcó mi vida.
Cuando veo retratos, cuando percibo olores,
cuando escucho una voz, cuando me acuerdo del pasado,
yo siento saudades…

Siento saudades de amigos que nunca volví a ver,
de personas con las que ya no hablé ni me topé…

Siento saudades de mi niñez,
de mi primer amor, del segundo, del tercero,
del penúltimo y de aquellos que aun voy a tener, si Dios quiere…

Siento saudades del presente,
que no aproveché en lo absoluto,
recordando el pasado
y apostando por el futuro…

Siento saudades del futuro,
que, si idealizado,
probablemente no será como
pienso que va a ser…

Siento saudades de quien me dejó ¡y de quien yo dejé!
De quien dijo que vendría
y ni se apareció;
de quien apareció corriendo,
sin conocerme bien,
de quien nunca voy a tener
la oportunidad de conocer.

¡Siento saudades de los que se fueron y de quien no me despedí bien!

De aquellos que no tuvieron
cómo decirme adiós;
de gente que pasó por la acera del lado opuesto de mi vida
¡y que sólo atisbé de un vistazo!

Siento saudades de cosas que tuve
y de otras que no tuve
¡pero que quise mucho tener!
Siento saudades de cosas
que ni sé si existieron.

Siento saudades de cosas serias,
de cosas hilarantes,
de casos, de experiencias…

Siento saudades del cachorrito que tuve un día
y que me amaba fielmente, ¡como sólo los perros son capaces de hacerlo!
¡Siento saudades de los libros que leí y que me hicieron viajar!

Siento saudades de los discos que oí y que me hicieron soñar,

Siento saudades de las cosas que viví y de las que dejé pasar,
sin disfrutarlas del todo.

Cuántas veces tengo ganas de encontrar no sé qué…
no sé dónde…
para rescatar alguna cosa que ni sé qué es ni dónde la perdí…

Veo el mundo girando y pienso que podría estar sintiendo saudades
en japonés, en ruso,
en italiano, en inglés…
pero que mi saudade,
por haber nacido en Brasil,
sólo habla portugués, a pesar de que, allá en el fondo, pueda ser políglota.

Además, dicen que se acostumbra usar siempre la lengua patria,
espontáneamente cuando estamos desesperados…
para contar dinero… hacer el amor…
declarar sentimientos fuertes…
no importa el lugar del mundo en el que estemos.

Creo que un simple
“I miss you”
o no sé
cómo podamos traducir saudade en otra lengua,
nunca tendrá la misma fuerza y
significado de nuestra palabrita.

Tal vez no exprese correctamente
la inmensa falta
que sentimos de cosas
o personas queridas.

Y es por eso que tengo más saudades…
Porque encontré una palabra para usar todas las veces
que siento este vacío en el pecho,
medio nostálgico, medio sabroso,
mas que funciona mejor
que un signo vital
cuando se quiere hablar de vida
y de sentimientos.

¡Ella es la prueba inequívoca
de que somos sensibles!
De que amamos mucho
lo que tuvimos
y lamentamos las cosas buenas
que perdimos a lo largo de nuestra existencia…

 

 

* “Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

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